Texto: Elizângela Monteiro Neves e Felipe Marques
Fotos: Casa de José
Criado em 2012 na Casa de José, em Belém (PA), a Cidade de Irupé é um dispositivo socioeducativo que estimula a participação e o protagonismo de crianças e adolescentes em processos de tomada de decisão em diversos assuntos relativos à rotina da Unidade.
Na prática, a proposta de Irupé replica parte da estrutura administrativa de uma cidade — com a presença da função de prefeito, vice-prefeito, secretários e vereadores —, que é ocupada por crianças e adolescentes. A equipe eleita tem a responsabilidade de propor melhorias e tomar decisões que impactem positivamente Irupé, e cujas consequências afetam a rotina da Casa de José. O projeto é desenvolvido em sintonia com o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), a partir das diretrizes para a realização do serviço.
Em Irupé, por meio da realização de assembleias, as demandas são avaliadas, discutidas e encaminhadas para execução. Os educadores sociais e a equipe técnica da Unidade participam enquanto facilitadores e orientadores, mas cabe aos coparticipantes a organização dos encontros e a execução das ações aprovadas coletivamente.
Ao longo de mais de dez anos de existência, a cidade de Irupé — cujo nome significa “vitória-régia”, em tupi-guarani — já conquistou reconhecimentos importantes, como a premiação na categoria “Grande Porte da regional Belém” na 11ª edição do Prêmio Itaú-UNICEF, e a certificação conferida pelo Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015. Em 2016, o projeto vira livro, com o título “Irupé, mais que uma cidade: geração cidadã”.
A motivação original de criação do projeto surgiu a partir de uma conversa com as crianças e adolescentes sobre as questões de habitação no território. Na época se questionava por que que as condições de moradia eram tão precárias e porque, a partir do olhar das crianças e adolescentes, a prefeitura não contribuía nessa questão. Daí surgiu a ideia de experimentar uma cidade dentro das dependências da Unidade, a fim de responder aos questionamentos da época. Hoje, doze anos depois deste movimento inicial de diálogo, o projeto já se consolidou como um dispositivo socioeducativo que fomenta lideranças locais e o envolvimento dos coparticipantes nas questões comuns, tanto da Unidade como do território.
Alguns dos exemplos mais recentes do impacto da Cidade de Irupé é que a sua prefeita, a adolescente Clarisse Ratis, de treze anos, foi convidada para compor a mesa da sessão solene sobre o aniversário de 34 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Clarisse e os demais coparticipantes também ajudaram na organização do encontro estadual do projeto “Democracia, Direitos: Crianças e Adolescentes”, que ocorreu na Casa de José em agosto.
Referências externas:
Fotos tiradas para a 11ª edição do Prêmio Itaú-UNICEF (por Rafael Almeida)
1) https://www.flickr.com/photos/88864711@N08/albums/72157659485344348/
Reconhecimento do Projeto pela Fundação Banco do Brasil
2) https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/cidade-de-irupe
História e objetivos sociais da Cidade de Irupé
3) https://saberesepraticas.cenpec.org.br/acervo/gestao-democratica-fundamento-da-educacao-integral