
Atletas de karatê do Lar Fabiano de Cristo participaram do Campeonato Sul-Americano de Karatê, realizado entre 18 e 24 de abril, em Guayaquil, no Equador, conquistaram duas medalhas de bronze e fizeram história na competição e na instituição.
O coparticipante Pedro Ryan Félix dos Santos, da Casa de Odim de Araújo, em Bayeux (PB), disputou na categoria Kumite | Cadete -52Kg, e ficou em terceiro lugar; Rafaela Cristina da Silva, da Casa de Rodolfo Aureliano, em Recife (PE), disputou na categoria Kumite | Sub21 +68Kg e também ficou em terceiro; Fernando da Silva Cândido, do Polo Cidade Cristã, em Sapé (PB), disputou na categoria Kumite | Sênior -84kg com muita garra e dedicação, dando o melhor de si.
O Lar Fabiano de Cristo promove oficinas de esporte em várias unidades operacionais, pois acredita no poder transformador dessa atividade na vida das pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social. Para entender melhor o impacto do esporte na vida das pessoas, conversamos com os atletas, técnicos, assistentes sociais e supervisores responsáveis pelo êxito internacional no Equador.
Participaram do encontro, da Casa de Odim de Araújo, o atleta Pedro Ryan dos Santos, o técnico José Targino e a supervisora Liza Helena Ferreira; do Polo Cidade Cristã, o atleta Fernando Cândido e a assistente social Sueli do Nascimento; e, da Casa de Rodolfo Aureliano, a atleta Rafaela Silva, a técnica Vanessa Araújo e a supervisora Sandeji Alexa.
Para a atleta Rafaela Silva, de 20 anos, o karatê é uma paixão. A coparticipante, que entrou em contato com o Lar Fabiano de Cristo pela primeira vez em 2014, foi mãe muito jovem, mas consegue atualmente conciliar a maternidade com o esporte. “Às vezes é muito difícil, já pensei em desistir várias vezes, mas minha filha é meu suporte para estar aqui hoje”, conta Rafaela, que treina karatê três vezes por semana, segunda, quarta e sexta-feira, e faz preparação física na terça e na quinta-feira.
A rotina de treinos e preparações são uma constante na vida dos atletas. Pedro Ryan dos Santos, de 14 anos, tem ainda que conciliar as demandas do karatê com os estudos. Na parte da manhã ele vai para a escola e, à tarde e à noite, treina. Contudo, por questões financeiras e familiares, nem sempre é possível que os coparticipantes tenham dedicação exclusiva ao esporte, como explica a assistente social Sueli do Nascimento:
— A gente sabe que o karatê é um esporte muito caro. Então os meninos às vezes faltam ao treino, eles têm filhos, às vezes precisa… mas imagine se ele tivesse toda a assistência que a gente gostaria de dar, que o Lar Fabiano gostaria de dar. O que eles não iriam conquistar? — conta Sueli.

De acordo com José Targino, de 51 anos, o karatê, para ser executado em alta performance, necessita de uma equipe multidisciplinar composta por profissionais como o nutricionista, o preparador físico, o psicólogo, além de equipamentos específicos e dietas com suplementos, o que gera um investimento elevado.
— O atleta não precisa apenas do treinamento técnico, do karatê em si, da luta; ele precisa de um suporte maior, de um suplemento alimentar, precisa de academia para fortalecer a musculatura, um trabalho físico para potencializar o nível do atleta… então, é esse tipo de dificuldade que a gente encontra. Mas aí a gente vai driblando as dificuldades e os resultados estão aí — explica Targino.

Atletas como Douglas Brose, considerado um dos maiores caratecas de todos os tempos e tomado como referência por Pedro Ryan dos Santos e por Fernando Cândido, têm a possibilidade de se dedicar inteiramente ao karatê e receber um suporte direcionado. Mas, como bem lembra Vanessa Araújo, é louvável conseguir resultados, chegar tão longe e figurar entre os melhores do mundo com um recurso limitado.
— Com o que a gente tem, a gente tá nesse patamar elevado, então imagina se a gente tivesse o que realmente tem que ter. Com certeza teríamos muito mais Douglas, seriam Fernandos, os Pedros, as Rafaelas, todos saindo de uma obra de vulnerabilidade para o topo do mundo — relata Vanessa. — No Brasil, nós já estamos entre os melhores do nosso país, graças a Deus, com um trabalho simples, humilde, que a Casa nos oferece e nos dá suporte. E a gente vai à frente com o que a gente tem, na paz e na luz — completa.
Para que resultados como os do Sul-Americano sejam atingidos, é preciso que haja um esforço coletivo, realizado não só pelos técnicos e atletas, mas pela unidade operacional e pela família, um trabalho conjunto.
— As famílias vão vendo as transformações dos atletas, vão incentivando, porque há um trabalho também com os familiares, então o apoio deles no esporte é muito importante, e a gente tem tido esse apoio da família. Trabalhamos em equipe, o Lar com as famílias, e a gente vê o resultado a partir do momento em que a família está junto com a gente — conta Liza Helena.

Os coparticipantes, ao ter notoriedade no Brasil e no mundo, tornam-se referências, exemplos de conduta para os mais jovens, “luzes na comunidade”. O trabalho então se multiplica, criando um impacto que vai além do coparticipante e de sua família.
— É muito gratificante chegar aos treinos e o pessoal falar: “Ah, um dia quero ser igual a você!” Na escola mesmo, muita gente fala: “Queria ser igual tu!”, “Queria chegar a um campeonato sul-americano, viajar para fora do país…”. E eu acho isso muito gratificante pra mim — relata Pedro Ryan.
— Quando eu chego com uma medalha no peito as crianças [dizem] “Ah, eu quero ser igual você!”, aí eu simplesmente respondo: “Treine, participe, tenha foco, bote metas em sua mente que, se Deus quiser, com muita dedicação e foco seu, um dia você chega lá.” — relata Fernando.
O esporte, dessa maneira, se transforma em um importante instrumento de promoção e transformação social, tanto a nível pessoal, para os atletas, como a nível familiar e comunitário.
— A nossa maior dificuldade, às vezes, é a gente sanar e direcionar os conflitos com os quais eles já vêm pra gente, e direcionar conforme a filosofia do karatê, as demandas desportivas, e essa é a nossa maior luta. No momento em que eles entendem que já têm um talento e que gente consegue, junto com eles, direcionar, eles vão longe — afirma Vanessa, que conta com o trabalho imprescindível da assistência social nessa questão.
— Eu acredito que o esporte vem somar, vem agregar valores e incentivar essas famílias a descobrir o seu potencial e a valorizar esse potencial que, muitas vezes, está lá escondidinho e ninguém percebe. E o bom do trabalho do Lar Fabiano é oferecer essa oportunidade de descoberta. É pra isso que a gente está [aqui], para sensibilizar, para acreditar e para trabalhar junto, caminhando lado a lado — explica Sandeji.
Um testemunho de cada técnico e atleta:
“Então eu sempre digo pra eles: é preciso acreditar. Têm muitos dos nossos jovens que têm conflitos dentro deles, que são essa descrença, e criam neles crenças limitantes, então eles nem sabem realmente que são talentosos, e por vezes a gente fala, fala, fala, e vai chegar uma hora em que eles vão ter um insight, um feedback, e vão acreditar.”
Vanessa Araújo, técnica, 37 anos
“Antes de entrar no tatame penso nas dificuldades, o quanto foi difícil estar ali, naquele momento, e [fico] só com um objetivo na cabeça: sair com um resultado positivo, com uma medalha de ouro no peito, e representar todas as pessoas que acreditaram em mim, no meu trabalho e no meu potencial.”
Fernando Cândido, atleta, 22 anos
“Em primeiro lugar a gente tem que falar o seguinte: que eles lutem para eles mesmos. Quando você luta para você, aí as outras coisas vão acontecendo.”
José Targino, técnico, 51 anos
“Se gente não acreditar em nós mesmos, a gente não consegue chegar lá onde queremos chegar. Temos que nos formar com princípios e valores, e muita dedicação. Temos mil motivos para desistir, mas só um para continuar.”
Rafaela Silva, atleta, 20 anos
“O karatê mudou minha vida e vem mudando a vida de todos os atletas do Brasil, principalmente no Lar Fabiano. O karatê não é só sobre treinar, mas sim ter uma missão, ganhar, ter saúde, se desenvolver como pessoa e como atleta.”
Pedro Ryan dos Santos, atleta, 14 anos
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